domingo, 11 de outubro de 2009

Biografias Horizontais VI - Depoimento de J.M.S.


olha, só topei dar esse depoimento pois você me garantiu que não revelaria meu nome. E também gosto de falar. Começei na vida cedo, sabe moço... quando eu tinha doze ou treze anos, não lembro bem ( abaixa a cabeça por um instante), fui violentada pelo meu primo de 19 anos. Nunca contei isso a ninguém. Na verdade, o depois foi muito difícil, sabe? Fiquei meio perdida e muito confusa. Depois disso esse primo meu ficou um bom tempo sem ir lá em casa. Uns dois anos depois, qando eu menos espero, aparece o sujeito lá. Senti calafrios dos pés até a cabeça. Ao mesmo tempo que eu queria que ele desaparecesse quando eu fechasse os olhos, queria tembém que ele me jogasse na cama e fizesse exatamente como fez da outra vez. Que cara é essa moço? Ficou chocado, foi? É que esqueci de dizer que eu tinha uma certa paixão por ele. Coisa de menina sabe.]
Entrevistador: fale mais de sua profissão...
Ah é, essa história me traz umas lembranças tão misturadas em minha cabeça. Ao msmo tempo que dá raiva, dá saudade... enfim.
Aos 16 anos fiquei grávida e fui morar com meu namorado. Perdi o bebê aos seis meses de gestação e, logo em seguida, levei um pé na bunda daqueles e, não queria voltar pra casa de meus pais de jeito nenhum. Foi aí que conheci a dona do Pinguelo Doce. Na época, o Pinguelo era o centro da boemia da cidade, lugar bem frequentado e, olhando de fora, nem era assim tão sujo... mas se você vasculhasse direito, ia ver cada coisa absurda. Imagina uma casa com 14 mulheres e dezenas de homens por noite? Deu pra perceber que limpeza não era o forte do local...
Bem, foi assim que começei nessa "carreira" (risos), com 16 pra 17 anos. Dona Cabeluda tinha umas técnicas que deixava a gente apertadinha que nem menina moça ( risos). O pior em trabalhar com sexo é que homem bonito geralmente consegue de graça, né? Então sobrava a rebarba pra gente. Era cada trapo que aparecia lá. Eu só beijava na boca se fosse branco. Não tenho nada contra preto sabe, mas ía cada negão lá que era o "cão chupano manga". Dona Cabeluda nao deixava a gente recusar cliente, a menos que a menina tivesse mortinha da silva. Mas ela era uma boa pessoa. Tinha uma menina que ela pegou pra criar desde novinha. Tratava como se fosse filha. Mas, como ela mesmo dizia: "vergonha é roubar e não levar, minha filha". Hoje sou feliz por ter conseguido construir uma familia. Não gosto muito de ficar remexando no passado, mas confesso que foram tempos difíceis, mas havia muita alegria. Se pudesse voltar atrás, não sei se faria diferente não... isso fez parte do que eu me tornei hoje sabe. E negar isso, seria negar uma parte de mim.

Esse foi o depoimento de J.M.S. que é casada há cinco anos e tem um filho de tres anos. Trabalhou por cerca de 10 anos na casa de tolerancia de Dona Cabeluda ( nome fitício) como profissional do sexo. Hoje ela é psicóloga formada pela Universdade Federal da Bahia e é uma mulher que enfrenta todos os seus fantasmas de cabeça erguida. E resolveu compartilhar um pouco de sua história com o Biografias Horizontais.

Beijo pra quem é de beijo.
Abraço pra quem é de abraço!